Rascunho



Na pré-escola é proibido usar caneta porque você está aprendendo a escrever, com certeza vai errar e por isso usa lápis e borracha. Com o tempo você já sabe o suficiente para se arriscar na tinta e no auge de sua adolescência, cheio de certezas, começa a escrever em seu caderno com canetas de várias cores, ainda que as vezes recorra ao corretivo, na esperança de esconder algum errinho e manter o caderno impecável. Mas o certo é aprender a ser perfeito, porque no vestibular é proibido usar corretivo e se tiver muita rasura alguém (que não erra) vai tomar sua vaga. Para não esquecer o quão inseguro somos, sempre utilizamos uma folha de rascunho e só então transcrevemos para a folha oficial. Crescemos pensando que temos que ser perfeitos em tudo, não podemos errar, o erro é feio. Tem gente que pede até 3 folhas, começa a escrever, não gostou rabisca tudo, próxima folha. Droga de rasura, poderia ter usado palavras mais rebuscadas, próxima folha. E assim a essência do texto vai se perdendo nas 4 ou 5 folhas que foram jogadas fora. 

Acontece que o erro é bonito sim. Não devíamos ser ensinados a ter medo de errar, arriscar, chorar, afinal não é esse o único caminho para quem deseja viver? Repare que eu disse viver, porque a maioria de nós apenas segue uma rotina pré-estabelecida e qualquer mudança, próxima folha. Veja bem, a vida não te dá folhas de rascunho. Claro que você terá outras chances, mas tudo será escrito no mesmo papel, não há tempo para transcrever. Por isso pegue sua caneta bic, ainda que esteja falhando, e comece a escrever agora mesmo. Escreva o que vier, errou? Passa um traço e continua, isso vai te tornar mais cauteloso, mas não há nada mais bonito que a simplicidade de um rascunho, onde as ideias tomam forma e amadurecem, em meio a erros e acertos. 

E não é assim que a vida tem que ser? Uma crônica sem moral, uma dissertação que não necessariamente terá início meio e fim. As melhores ideias me surgem de madrugada, a famosa horinha de descuido de Guimarães Rosa. Eu escrevo no bloco de notas do celular tonta de sono, mas quando vou transcrever é tarde, já perdi a essência. O sentimento muda a cada segundo a vida é o próprio rascunho. Acostumar-se com a impermanência, alegrar o coração com as novas experiências. Escrever como nas antigas máquinas, a folha vai e volta e nos continuamos palavra por palavra, até construir uma história, com vários erros que no fim revemos orgulhosos pelo caminho que percorremos pra chegar aqui no presente, que também é futuro, sempre impermanente, como as células que se renovam a cada segundo e nem por isso sou menos eu.

Não era amor, não era.




Era cilada e eu sabia. Foi exatamente o seu gosto fugaz que me fez querer ficar. Foi por saber que eu não podia me envolver que eu quis me entregar. Eu sabia que não ia acabar bem, mas você me tocava e eu esquecia. Seu cheiro me embriagou e eu queria te beber. Sentir suas mãos em cada parte do meu corpo, a textura da sua barba na minha pele, a sua voz me arrepiava em lugares que eu nem sabia que era possível. Foi o seu olhar perdido, as suas mãos que me procuravam no meio da noite, nossas pernas entrelaçadas, nosso coração confuso. E eu sei que você foi sincero, pelo menos comigo. Mas a vontade de você não me deixava mentir. Os meus verbos queriam engolir tuas sílabas. Eu era fogo e você brincou sem se queimar. Isso só me atiçou mais, eu queria te marcar. Não pra te ter só pra mim, eu nunca liguei para o que você fez, mas sim pelo que deixou de fazer. Eu queria sentir seu cheiro no meu corpo de novo. Seu gosto na minha boca e ouvir teus segredos de liquidificador. A conexão foi forte, "bateu foi tudo", a sinergia me consumiu e você me deixou ali, sem sentido algum. Queria suas mensagens cheias de medo de se abrir demais, a calma do seu telhado após a confusão da tua cama e as sua fotos no meio do dia que me tiravam a paz. Hoje eu apaguei uma foto tua, "prazer felicidade", mas eu espero que você ainda esteja feliz, assim como eu fiquei quando você me deixou fazer parte desse quase nós. Era cilada e eu cai porque eu quis.

Não seja o Marcos


Ok,pra começo de conversa vamos logo assumir que não sou a melhor pessoa pra falar sobre esse assunto,afinal com quase dois anos de carteira devo ter dirigido cerca de meia dúzia de vezes. Definitivamente conduzir um veículo não é a minha praia. Como já dizia a minha mãe " hoje em dia a pessoa tem que dirigir por ela e pelos outros". E bem,os outros é que são o problema.Digo em relação a prudência. É cada coisa que se ve por aí.

Hoje mesmo voltando para casa tive a 'satisfação' de cruzar com um desses infelizes que se acham o Dominic Toretto do Velozes e Furiosos pelo caminho. O rapaz que deveria ter cerca de 20 e poucos anos vinha pela estrada visivelmente muito acima da velocidade da via. Nosso carro,lê-se carro da minha mãe ,estava a frente do dele e devido um redutor diminuímos a velocidade. E o distinto rapaz,vou chamá-lo Marcos (apenas um nome fictício) ,piloto de fuga que só ele,mesmo vendo a sinalização freiou em cima da hora e quase bateu no nosso carro. 

Porém devido a redução  e a estrada estar num trecho de aclive vários carros acabaram se aproximando. E por isso ficamos "ilhadas' entre dois carros e um caminhão que por maior esforço que fizesse subia a ladeira a trancos e barrancos.E 'Marcos" educado como ele simplesmente começou a jogar luz alta.Como se a luz fosse teletransportar meu carro da frente dele. Marcos querido,ainda não inventaram carros fotofóbicos.

Após mais alguns segundos,repito segundos, ilhadas finalmente conseguimos mudar de pista. E finalmente Marcos poderia seguir seu caminho. Ou sua fuga,sei lá. Porém educado como era ele resolveu emparear seu carro ao nosso e nos encher de xingamentos. Ai me pergunto:Por que Marcos?A pessoa faz N merdas no trânsito e ainda se vê no direito de "tirar satisfação" com alguém que está apenas seguindo as regras.

Bem,logo após a chuva de palavras de baixo calão ele acelerou como quem precisa tirar o pai da forca e sumiu estrada a fora. Confesso que no momento minha vontade era ir atrás e mandá-lo para a p*** que pariu. Mas como acredito que o mal que desejamos ao outro volta pra gente,respirei e segui em frente.

Moral da História? Nunca,jamais seja o Marcos. O trânsito agradece!